sexta-feira, 7 de junho de 2013


ALOCUÇÃO AO POVO PELO
DIRECTOR GERAL DOS
ESTADOS UNIDOS DA EUROPA


CONSUMIDORAS, CONSUMIDORES,

Devo agradecer-vos o vosso apoio caloroso e massivo?
Não! Um presidente que acaba de ser re-eleitonão agradece. Justifique sua confiança através de acçõese programas.
Esta Europa, cuja responsabilidade pesasobre os meus ombros está em transformação.
Dizem alguns que as nossas estradas, as nossas telecomunicações, os nossos espaços de cultivo acelerado, as nossas cúpulas de existência experimentalatravessam uma crise.
Uma crise? Mas claramente, é a crise mais saudável que poderíamos imaginar.Uma crise de crescimento!
E qual é o pai não rejubila por ver crescer os seus filhos?Crescer e prosperar!
O meu governo soube resolver a equação: a cada um o consumo que escolhe, segundo a sua conta bancária.
Sim, queridos Cidadãos Consumidores, o futuro sorri-nos como eu vos sorrio agora.
E os escândalos? Os escândalos? Falamos sobre os escândalos desses promotores da desordem que pretendem coletivizaros espaços livres em detrimento dainiciativa individual.
Enfim, cada um sabe que um espaço livre está livre.E se está livre, então está à venda!
É preciso arrancar os espaços improdutivos a essa concepção retrógrada da estética ecológica de uma comunidade marginal.
Vamos forçar grupos,sindicatos e partidos a respirar segundo nossos padrões políticos.
E o nosso governo é capaz de prometer já para amanhã uma redução substancial na ordem de 15%, do imposto sobre o consumo de ar potável.
E essa batalha do tráfego será a nossa vitória. O Reno, o Danúbio, o Tibre, o Sena e o Tamisa, essas maravilhosas vias de circulação naturais serão cobertas de betão para vos permitir ir mais depressa e mais longe.
Nós já temos as autoestradas, nós teremos os autorios!
Quanto ao problema dos resíduos industriais e poluentes de todos os tipos, também nós soubemos encontrar uma solução rápida e eficaz. Esses resíduos serão a partir do próximo semestre evacuados quotidianamente pelos nossos mísseis lançados da nossa base europeia da Sicília para a Lua.
Sim, a Lua! Esse caixote de lixo galáctico que a naturezanos reservou no nosso espaço imediato e possível.
Nós ganhámos a batalha do ar. Os nossos Bangos 12, 35 et 60 conquistaram todos os mercados da aviação mundial.
Nós ganhámos a batalha da Paz. Exportamos para o mundo inteiro os nossos mísseis bacteriológicos, única fórmula de equilíbrio entre as grandes potências.
Nós ganhámos a batalha do petróleo. Graças aos nossos poços submarinos do Pireu, de São Remo, de Rimini e de Saint-Tropez os vossos automóveis nunca mais terão sede.
E ganhámos a batalha da energia. Megalopolis centralizou toda a força das centrais termonucleares da Europa num única e maravilhosa rede.
Assim, a nossa bem amada capital encarrega-se da distribuição de energia a todas as famílias, a todas as fábricas, a todas as cidades dos nossos Estados Unidos da Europa. Cada um destes sucessos situa-nos no primeiro lugar da produção mundial, imediatamente depois da China e muito à frente dos EUA.
As minorias barulhentasestão agora condenadas ao silêncio.
É o crepúsculo dos grupúsculos.
Consumidores, Consumidoras,

Temos agora uma República pura, madura, forte e segura.
Viva Megalopolis, viva esta Europa da Liberdade!
 
Herbert Pagani (1972) – Prelúdio a Megalopolis

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